segunda-feira, 28 de julho de 2008

EM NOME DO PAI

Se foi o ano 2000 e com ele, além de outras coisas, se foi meu pai. Pessoas morrem diariamente, e importamo-nos pouco, nem tanto ou muito com isto. Porém quando nos morre uma referência, parece- nos que fugiu um pedaço de nós, uma quantidade de vida, um banco de dados, tudo, porque não fora uma porta qualquer, mas sim uma referência.Quando menor, imaginava como seria estar no ano 2000. Será o ano da catástrofe? Da destruição? ou de nossa redenção futurística? – imaginava. Pensava em carros voadores, videofones e outras coisas que acabaram surgindo e outras tantas que nunca existiram ou existirão. Podia imaginar tudo até a destruição total da vida na Terra e não a destruição individual de uma parte de minha vida.O ano em questão foi muito conturbado. No princípio do ano, foi –se minha sogra, imagine como passamos o “reveillion”, apesar de estarmos sabendo de sua morte iminente, o choque aconteceu. Porém a vida seguiu seu destino inexorável. Houve mudanças: deixei a sala de aula num de meus empregos, comemorei meu aniversário como se fosse uma festa junina( que meu pai não participou) e continuou no dia seguinte (já com a presença de meu pai) e dezesseis dias depois o falecimento de meu pai. Talvez fosse melhor não Ter existido o ano 2000 ou talvez não.O assunto ficou adormecido até o final do ano . Talvez na espera do ano fatídico terminar ou morrer ( seria um desejo de vingança?) ou quem sabe na espera da tristeza ser absorvida pela razão e os sentimentos e as emoções fossem disciplinados pela razão (seria um desejo de paz ou quietude) ou não seria por tudo isto?!Esperei o ano terminar e não pensei no fato ou fingi que não pensei. Deixei de pensar para não sofrer. Pensei isto sim no trabalho, na família e na vida de uma forma geral.Não pensei em tudo que direta ou indiretamente fosse relacionado a meu pai em minha vida. Não pensei nas suas opiniões e nas suas referências.Não pensei , por exemplo, que fora o responsável pelo meu nome (Ulisses) bem como do meu irmão (César), porque gostava de nomes heróicos, mitológicos ou histórico.Não pensei que fora responsável pela minha ávida propensão a leitura e a escrita, dando-me livros, jornais e revistas a ler na mais tenra idade ( por volta dos nove anos ).Não pensei que fora responsável primeiro pelo meu senso crítico ( o primeiro contato que tive com uma visão crítica foi através de suas mãos pela leitura d’ “O Pasquim”).Não pensei nas brincadeiras, ironias finas e nas sutilezas que humanizaram o meu espírito, porque sem suas referências eu seria um tanto previsível. Porque se sua vida era cheia de histórias, fatos ou causos, a minha não caberia num dedal.Não pensei, principalmente, que seu desejo de querer dar certo, inventando, projetando ou arquitetando coisas, fosse responsável por esta visão romântica que carrego em mim.Terminado o ano em questão, vejo-me então livre para pensar e escrever tudo de bom desta referência em minha vida. Houve falhas em meu pai? Houve. Várias. Mas não serei eu a julgá-las, porque como se dizia na antiga Roma “Dos mortos só se deve falar coisas boas”. Então Sr. Jarbas, obrigado, adeus ou até breve ! ( Quem sabe?!)

NADA SERÁ COMO ANTES

Durante minha vida de casado, todo natal e todo ano novo viajávamos para Caraguá. Era como se fosse nossa Meca, só que ao invés de irmos apenas uma vez na vida, íamos toda vez. Nunca fui muito de festejar o Natal, gostava mesmo do Ano Novo. Talvez por ser uma festa pagã ou que se baseie no desejo, na felicidade e na esperança de paz, dinheiro, saúde e outras coisas menos prováveis de acontecer. Mas como disse o natal sempre foi das festas do final do ano a que menos me entusiasmava. Porém devo admitir que esta festa carregava e carrega uma carga de família, de amor, de reclusão e de introversão tão importante ao ser humano.Tudo o que aconteceu durante o ano é repassado em nossas cabeças, pesado, avaliado e nos tornamos mais abertos a pequenas coisas que em outra época do ano poderíamos achar fúteis ou no mínimo corriqueiras. O livro ”O Natal dos Anjos” encontra uma explicação para isto no místico: “Nessa época do ano toda a Terra vibra com as maravilhosas forças derramadas pelos anjos e com a poderosa bênção do Cristo, que desce em resposta à sua adoração”. Poderia ser uma explicação para estarmos mais calmos, pensativos e mais aptos a atos e pensamentos melhores, menos gananciosos e cheios de bondade e caridade. O livro reforça a idéia nesta passagem: “No período do advento, na verdade muitas semanas antes, é feita de várias maneiras a preparação, nos mundos interiores, para a celebração do grande festival; as influências tornam –se mais fortes e mais intensas à medida que os dias passam, até que, atingindo a culminância no Dia de Natal, o mundo abre seu coração para o Senhor como uma flor abre suas pétalas para o Sol, e uma torrente de amor e força é derramada pelo próprio Cristo, como encarnação na Terra da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.” Portanto o Natal carrega um lado místico e mítico, um ritual de passagem importante para os cristãos no mundo todo. Um ritual que carrega toda um ritualismo baseado em confraternização, amizade e companheirismo e na vida, porque trata de um nascimento em particular e isto adocica, suaviza e humaniza as pessoas em geral. E vendo sob este prisma eu gosto muito do Natal.Nos Natais de minha infância e adolescência, a parte mais importante da comemoração era o almoço no dia de Natal. Era uma atividade Ágape com todos meus tios, tias, avô e avó freqüentando a casa de minha mãe e trazendo cada família um prato especial. Uma família trazia o Peru, outra fazia o porco, outra o frango, o arroz, a salada de maionese, a sobremesa. A idéia mais marcante destes natais era o macarrão de forno da minha avó e o clima de confraternização e companheirismo da família não percebida durante o ano todo.Enquanto que nos Natais de minha vida de casado, sempre se seguiu o ritual da família de minha esposa. A ceia na véspera do Natal, com comidas feitas pela minha sogra, minha cunhada e minha esposa. Elas preparavam o frango, o peru, o tender que meu filho e meu sogro gostavam, o porco e faziam também as saladas de folhas, de couve-flor, de brócolos, de grão de bico , bem com as várias sobremesas, isto sem falar na preparação das mesas onde eram colocadas todas estas delícias em cima das toalhas pintadas com motivos natalinos, fruteiras com frutas de época e natalinas tais como figo, ameixa vermelha, nectarina, lichia, uvas passas, damasco, figo seco e outras .Nestes Natais o que era mais marcante era a cooperação, o ritmo alucinante para se fazer tudo, quase uma fábrica de fazer comida e principalmente a quantidade de comida que dava para a Ceia e para os dias seguintes. O mais interessante eram os dias seguintes, afinal nos colocávamos numa posição semelhante aos antigos povos, quando da celebração da colheita anual que ficavam até um mês sem trabalhar, apenas comendo o que fora estocado depois da ceia.Houve fatos marcantes durante os natais, tanto de minha infância como de minha vida de casado. Houve as rusgas naturais que encontros como este causam, já que é muita gente a se encontrar. Algumas mágoas que se afloram, com algumas insinuações impróprias. Alguns momentos tristes como quando meu tio e anos depois meu avó adoeceram e a família de meu pai sentiu um baque na comemoração do natal ou também quando minha sogra estava prestes a falecer, só não sabíamos quanto mais duraria, poderia falecer inclusive no Natal ou no Ano Novo, veio a falecer no dia 4 de Janeiro, mas nos vimos obrigados a realizar as cerimônias , principalmente a natalina, porque era do gosto de minha sogra (ela sempre fez questão da comemoração desta data pela família e gostava de todo o ritual) e do meu sogro. O que é mais marcante nesta data é capacidade do homem perdoar e redescobrir a felicidade em pequenos gestos, afastando assim os maus sentimentos, rancores e mágoas, talvez porque com diz o livro “Natal dos Anjos”...”Geralmente vemos o universo do ponto de vista da forma: pensamos primeiro na forma e só depois na vida que a energiza e lhe dá a alma, o que é tipicamente humano” e logo depois esclarece “...O anjo, porém, encararia o homem sob o ponto de vista da consciência, olhá-lo-ia para verificar o quanto de Vida Divina está nele manifestada; o quanto de força seria possível acionar por seu intermédio; e somente depois atentaria para forma de seus corpos superiores...” portanto se nesta data os anjos estão agindo sobre os seres humanos, e ficamos mais aptos de observar a anima , ou seja, a alma das pessoas.Talvez por isso tanto nos natais idos de minha infância- adolescência, bem com na fase adulta, por mais que brigássemos, emburrássemos (e como emburrávamos, quando se falava ou fazia alguma coisa que não gostássemos) ou ficássemos aborrecidos, as coisas se tornavam mais amenas, mais felizes, mais ingênuas, mais humanas, Oh não, digo angelicais. Nem mesmo quando minha sogra estava prestes a morrer no ano retrasado, nem com minha sogra e meu pai mortos no ano passado o natal foi pesado ou depressivo. Nos natais idos da infância o que segurava a cerimônia era a própria situação de confraternização da família, enquanto que na fase adulta era meu sogro que era a parte irônica, sarcástica da festa, dando uma pitada a mais de alegria e relaxamento para a data.Durante todo ano, meu sogro se preparava para estes dias (Natal e Ano Novo), combinando sobre os tipos de comida, doces, saladas e bebidas que iria ter, depois organizava e/ou comprava tudo mesmo quando em cadeira de rodas sem poder se locomover direito . Durante as festas era o mais alegre, o mais simpático, o mais brincalhão, aquele que não podia ver ninguém triste para fazer uma ironia, a fim de que pusesse a pessoa a sorrir, a rir, a gargalhar, talvez o espírito natalino se concentrasse mais nele, talvez os anjos concentrassem suas forças etéreas em cima dele.Porém neste natal já não haverá seu lugar a mesa, não escutaremos mais suas piadas (muitas repetidas todos os anos e nem por isso menos engraçadas), não veremos mais silhueta, não sentiremos mais seu perfume, nem a quentura de sua pele, muito menos sua alegria durante as ceias de natal e de ano novo e portanto nada será como antes, e data poderá não conseguir nos tocar na sensibilidade, na emoção, n’alma como já vimos em outros momentos, a não ser que meu sogro tenha se tornado um anjo a mais a influenciar o nosso Natal e Ano Novo, deixando os mesmos mais alegres tal qual sempre foi seu jeito de ser.Novembro de 2001

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

Hoje é muito difícil acreditar nas coisas e nas pessoas e motivos não faltam para isto, uma vez que todos mentem, enganam, traem, simulam e com se não bastassem acham isto normal e até louvam estas atitudes chamando-as de modernas, de humanas, de verdadeiras como estas atitudes cínicas, fossem importantes para a grandeza da humanidade.É muito comum se avaliar um filme, uma peça, um livro simplesmente pelos seus aspectos formais, pelo grau de efeitos especiais, pela sua movimentação, sua fotografia, pelo trabalho do ator em relação a psicologia das personagens e até pelo índice de diversão propiciado pela obra. Como somente a casca importasse.Não sou daqueles puritanos que acham que devemos nos aprofundar e nos preocupar simplesmente com o estudo do Ser (ontocentrismo) e as suas relações consigo mesmo (egocentrismo) e com o Universo (cosmocentrismo). Também não acho que as discussões deva girar apenas nas questões filosóficas dialéticas (Ser ou não Ser, Bem e Mal, Certo e Errado, Exploradores e Explorados, Ricos e Pobres ou até mesmo entre Rudes e Charmosos como dividiu Oscar Wilde a humanidade) e muito menos colocar no zênite a discussão Existencial ( viver intensamente a cada momento – Carpie Diem, ser dois num só ser- Certo/ Errado, Deus/Diabo, Bem/Mal, o dinheiro como mola da maldade, volta ao Campo e outras teorias que inflam a alma humana), mas também (eu gosto desta locução conjuntiva) em tudo isto que podemos avaliar como parte da alma humana.Bem como devemos nos atentar para nossa parte espiritual (seja lá qual for mesmo o ateu acredita num Deus, que ele chama de Natureza). Todos queremos ser melhores. Na maioria das vezes, somos piores para não sermos enganados, logrados, tripudiados mais que somos normalmente (fiz uma intertextualidade com “São Bernardo” de Graciliano Ramos). Tirando pessoa que não tem noção alguma da maldade, aquela que age por puro instinto, o assassino por mais cruel que seja, sabe por que está matando sua vítima e esta na maioria das vezes sabe porque está morrendo. Geralmente tudo se resume numa só palavra: PODER.O poder de controlar a vida de um filho, de uma esposa, de um empregado, de um aluno, de um discípulo, ou de um “cliente” de droga, de delator, de um inimigo da “boca”, ou da “banca”. Se conseguirmos então reduzir, democratizar este poder não propandisticamente, mas de fato, tanto social, como como financeira e culturalmente, haverá uma distensão e uma maior participação e isto acarretará em uma melhora nas atitudes das pessoas e portanto a história das pessoas, das famílias, das cidades, dos estados, das nações será mudada e acabará criando condições para sermos melhores, afinal como ser melhor, se estão sempre nos recomendando através da mídia, da atitude das pessoas, pelas instituições (escola, polícia, igreja, família) que nos devia proteger que nos devia que é melhor ser pior, porque só o pior vence.Portanto se formos mais coesos, mais interessados em viver, mais felizes, mais livres por termos mais dinheiro, saúde, mais acesso à cultura e ao lazer, sem estar constantemente preocupado com a violência, com certeza, seremos mais felizes.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

RITUAIS DE PASSAGEM – V – A MORTE

Talvez seja o único ritual de passagem que perdure em boa parte das sociedades neste mundo globalizado, porém seus simbolismos são mais perceptíveis quanto mais atrasadas forem as sociedades. Desde o costume de velar ao morto, à declamar uma elegia, comer e / ou beber durante o funeral ou até mesmo cantar para o morto, tudo tem um significado simbólico relacionado nas sociedades mais antigas e hoje com toda mídia, tecnologia e consumo descartável nem percebemos estes simbolismos.Podemos nos ater na concepção da morte. Esta passagem magnífica que tem dentro do seu cerne os elementos da destruição (Tanatos) e da construção (Eros). Afinal o que é o sexo senão esta mistura entre vida e morte, se ao sentirmos o orgasmo não entramos em estado de torpor puro ( uma proto-morte), ou mesmo durante a alimentação, sorvemos feito vampiros que somos a essência vital daquilo que matamos ou destruímos, tanto faz numa churrascada, numa feijoada, numa salada ou até mesmo num copo de solução salgada, vivemos nós de absorver os nutrientes dos animais e vegetais que matamos (sem sentir um mínimo culpa, porque compramos a morte empacotada em Supermercados, Açougues, Quitandas ou congêneres) ou nas reservas minerais que destruímos, porque todo tipo de extração mineral causa anomalias ao meio ambiente. Pode –se dizer que tanto a sociedade primitiva quanto a globalizada são matadoras destruidoras, mas somente na sociedade industrial isto se faz em grande escala e ainda se valoriza tal feito.A morte portanto carrega uma mística toda especial, tendo em vista estar relacionada ao medo, à destruição, ao desaparecimento, está também relacionada ao acúmulo de riqueza ou à miséria dependendo da quantidades de bocas a serem alimentadas e produção e muito mais a distribuição destes alimentos; ao acúmulo de conhecimento ou à estagnação, tendo em vista se a mesma chega antes ou depois da fase produtiva do homem, ou ainda ao sofrimento ou à dor, tendo em vista se chega de maneira paulatina, morrendo-se aos poucos ou fulminante. Pode –se dizer que a morte tem um charme, podendo estar até relacionada ao prazer, principalmente o prazer de destruir o outro. Não é isto o que os EUA estão querendo fazer, através da destruição do inimigo, sublimar sua própria destruição ( Torres Gêmeas e Pentágono), algo parecido com sociedades antropófagas, com uma diferença quando um antropófago absorvia seu adversário o fazia de maneira construtiva, ou porque o adversário era valoroso e merecia ser consumido ou desejava retomar o ancestral absorvido pelo adversário. Não esta destruição pela destruição!A morte carrega muitos rituais em função desta mística. Os peruanos por exemplo, miscigenando a cultura inca com a cristão, cantam para seus mortos, os mexicanos, por sua vez misturam a cultura asteca à cristã, e fazem procissões vestidos de caveiras, fazem caveiras de açúcar para serem distribuídas às crianças, para que estas não temam a morte, outro exemplo interessante é dos Filipinos que constroem verdadeiros palacetes ao invés de túmulos, tendo em vista que todo aniversário de morte do falecido a família dorme neste túmulo – casa, ou os japoneses que realizam comilança durante o funeral ou até mesmo os nordestinos com sua cultura de beber o morto, ou seja, beber pinga em homenagem ao morto revelam que a morte tanto quanto a vida carrega uma certa veneração, um certo respeito e por causa desde as sociedades primitivas carrega símbolos e rituais próprios para demonstrar todo este respeito e toda esta veneração.Podemos dizer que o velar o morto seja um tipo de ritual de passagem importante, ou seja para sublimar um sentimento de perda do ente que não será mais visto, ou demonstrar a veneração a este ente que foi muito importante para a formação ou aglutinação do núcleo familiar, ou ainda para se conferir se a pessoa realmente morreu, porque a mesma pode ser cataléptica e simplesmente parecer morta, ou ainda por tudo isto, que é o mais provável. Apesar de hoje em dia o velar ter se tornado um fardo, raros são os mortos que são velados durante vinte e quatro horas, somente personalidades, tipo Aírton Senna e Tancredo Neves, às vezes chegando a ser embalsamadas para se velar por mais dias, o caso do Tancredo Neves, ou ainda a dor da perda se restringir apenas a primeira hora de velório, depois disto começar a sessão piadas e “causos”, ainda sim o velar é um ritual muito importante na modernidade, porque demonstra nossa fragilidade diante da Morte, nossa única companheira durante a vida e torna –nos, mesmo com todo nosso individualismo, nossa arrogância, nossa impáfia, um pouco mais humanos e sensíveis perante os mistérios da vida e da morte.Este temática veio a calhar de ser analisada em Outubro, mês do Halloween, Festa Celtica, relacionada à passagem dos mortos para o mundo espiritual. Podemos perceber que as sociedades primitivas antes de ter medo da morte, tinham por esta respeito ( Aras de Sacrifício, Festas com representação seres que simbolizam esta a caveira mexicana, o tronco – totem da festa do Quarup, a procissão em homenagem a Osíris, Deus da Morte egípcio, Templos a Tanatos, Deus grego da Morte, até mesmo nos Autos Medievais que já era demonstrada na figura que nos vem ao subconsciente até hoje) e louvor e ou júbilo porque o tema não era tratado de maneira soturna, triste, definitiva e sim de uma maneira leve, alegre e passageira, afinal era comum se fazer festas para caracterizar a passagem do estado vivente para o estado etéreo, do profano para o sagrado, do efêmero para o eterno, do Plano Real para o Plano Ideal como acontecia no Halloween e que hoje em dia continua acontecendo nas Sociedades Japonesas, Mexicanas, nas sociedades indígenas das Américas, em algumas partes do interior do Brasil e de uma forma geral em um ou outros rincão mais atrasado do mundo.Espero que se mantenha este traço humano, sensível e simbólico dos rituais de passagem relacionados à Morte e que não nos tornemos apenas mais uma Commodity do vasto leque das coisas de valor do Capitalismo que depois de mortos, bastaria nos esquartejar por inteiro e vender nossas partes. Algo parecido com a sociedade descrita em “Admirável Mundo Novo” de Aldoux Huxley em que cada pessoa era programada para nascer, como deveria viver e quando deveria morrer e isto tudo de maneira individual, particular e solitária. Sei que existe o tráfico de órgãos hoje em dia, mas penso que as pessoas devem sempre lutar para se manterem solidárias, coletivas e integradas, senão choraremos nos cantos escuros de nossa consciência ególatra. Pela manutenção dos Rituais de Passagem da Morte e pela dos outros tantos esquecidos. Rituais Já!

RITUAIS DE PASSAGEM IV – A VIDA

Hoje em dia perdemos o encanto, a atração, o simbolismo de viver. Vivemos por viver, mecanicamente. Havia todo uma dinâmica no viver primitivo, todas as coisas tinham algo a mais. A vida era mais poética, afinal tudo era ritual.Estive lendo estes dias um livro de um índio Txucarramãe (Kaka Werá Jecupé) chamado “A TERRA DOS MIL POVOS” no qual comenta sobre a cultura das nações indígenas que compõem nossa nação. No princípio do livro o autor explica a razão do seu nome indígena, começando pelo primeiro nome que na realidade não é nome, e sim apelido (Kaka) e serve como escudo de proteção, porque segundo o autor “... o poder uma palavra na boca é o mesmo de uma flecha no arco...” completando a idéia “de modo que às vezes usamos apelidos como patuás.”. Como percebemos já nesta passagem as sociedades modernas perderam muitos referenciais. Hoje se temos um apelido, geralmente está relacionado a uma diminuição afetiva de nossos pré – nomes tal como Cacá para Carlos ou Carla, Tatá ou Tati para Tatiana ou Tatiane ou está relacionado a um padrão comportamental, defeito físico ou pela aparência física próxima a outra pessoa mais famosa tal como Loba ou Leão, Cabeção ou Coelha, Felipão ou Fafá de Belém, portanto perdem seu poder mágico, seu it poético, sua real necessidade, transformando –se em apenas rótulos de produto, ou seja, realçam a casca , a aparência (o corpo), ao invés da semente ( a alma).Mais adiante o autor explica seu nome “Werá Jecupé é o meu tom, ou seja, meu espírito nomeado. De acordo com esse nome, meu espírito veio do leste, fazendo um movimento para o sul, entoando assim um som, uma dança, um gesto do espírito para a matéria, que nos apresenta ao mundo como uma assinatura...”. Não é uma imagem bonita, mística até mesmo poética do nascer. O vínculo espiritual estabelecido por várias religiões percebermos nesta passagem, assim como os Kardesistas acreditam que o espírito escolhe seu nome antes do seu nascer, os índios de várias partes do globo terrestre acreditam que este é passado através de algum acontecimento sublime ou através dos sonhos e sempre terá vínculo com a pessoa que recebeu o epíteto. São exemplos disto Flecha Ligeira, Touro Sentado, Nuvem Vermelha, Athualpa, Raoni, Montezuma e outros.Os nomes na nossa era da comunicação de massas estão mais relacionado a fama e fortuna ou a eufonia provocada pelo som agradável da junção das letras. São os casos dos nomes de jogadores de esportes apreciados pelo país ( Futebol, Voleibol, Automobilismo e outros) ou nomes de personagens de folhetins tipo novelas, séries e minisséries Então o nome não aparece mais como assinatura do espírito e sim como carimbo ou um plágio de algo colocado como supremo. É tentar ser divino através da divindade de outro. É um vampirismo- metafórico.Os povos primitivos eram agregários, comunitários, chegavam a abrigar “100 ou 150 pessoas” em cada casa segundo Kaká, enquanto que nos dias atuais somos individualistas, solitários, com um indivíduo chegando a ter várias residências para seu prazer pessoal. As casas deixam de um reduto de aconchego e passam a ser apenas um local para se dormir, ficar, estar, porém não para se viver, morar ou residir. Apesar de várias culturas primitivas, serem nômades, não tendo portanto o apego pela moradia fixa, porque seguem o ciclo da natureza, tal qual ave de arribação que quando chega o inverno sem comida se mudam. Porém mesmo nestas culturas há uma veneração pelo local onde se mora, ou carregando a casa consigo (as barracas dos tuaregs dos desertos ou dos mongóis), ou com casas fixas em cada parada, mas que é aberta a cada passagem pelo local e em cada ciclo se mora em determinado local ( os antigos povos sambaquis, tupis e alguns povos tuaregs do deserto, principalmente da região de Marrocos) criando vínculo de amor, companhia e aconchego e amizade. As casas portanto neste caso não servem para se valorizarem ou serem apreciadas pela sua beleza, mas sim pela sua utilidade.Os homens primitivos não tinham tempo de engordar, nem de envelhecer, porque a luta diária, pelo alimento era cruel, desigual em relação aos dias atuais. Hoje a caça e as lavouras são empacotadas e vendidas nos Supermercados (estes templos de consumo), enquanto que nas eras remotas da humanidade ou com os povos primitivos estes deviam caçar, pescar ou criar seu próprio alimento, não sobrando tempo para o ócio preguiçoso, ou seja, individual relacionado ao ser humano moderno, para se ter apenas um ócio coletivo relacionado a festas de cunho místico – religioso. Portanto nas culturas primitivas não restam sobras, afinal o abate é feito em função de sua comunidade e nunca de um mercado a qual não se conhece as pessoas para quais está se vendendo. Estas pessoas sem rostos, sem nomes, sem almas.Outra coisa importante para os primitivos eram os caminhos, quase sagrados, que usavam durante suas vidas. Estes caminhos eram de conhecimento comuns dos membros da comunidade. Estavam relacionados às atividades de caça, pesca, comércio, comunicação. Todos tinham o mapa em suas mentes assim como os ursos , salmões e outros animais que sempre voltam ao local aonde nasceram por mais que se distanciem, tendo uma relação muito forte com o caminho. O caminho passa a ser a vida. Diferentemente hoje temos excessos de caminho que não levam a nenhum lugar específico. Ao contrário do de Peabiru ( que ligava Cananéia a Asunción (Paraguai), caminho este relatado no livro de Kaká, nós fazemos nossos caminhos, os pontos A e B de cada viagem. Algumas vezes os caminhos são sempre os mesmos (ir ao trabalho, à casa de um parente, a um templo ou a um lugar para o lazer), porém são nossos caminhos. Estão relacionados ao indivíduo, não à comunidade. Têm estrutura de caminho, porém não têm história de caminhos. São caminhos físicos, mas não sagrados.Há várias coisas que nos diferenciam dos nossos antepassados e que fazem nos perceber o quanto regredimos em várias coisas. Antes se trabalhava por precisão e quando se podia e se queria, hoje trabalhamos o tempo inteiro mesmo quando não podemos, para almejar algo abstrato e inatingível chamado Status. Por isto se adoece, se anula, se morre, e se mata. As pessoas primitivas eram mais alegres, felizes. Todas tinham o que chamamos hoje de auto – estima, não a individualista vendida em livros, em palestras por psicólogos demagogos e sim coletiva. Afinal todos se conheciam, se respeitavam,, se entendiam dentro da comunidade, podiam até ser cruéis em relação aos inimigos, mas eram felizes entre si. Hoje se não somos soturnos, infelizes, carrancudos somos irresponsáveis e em função disto não conseguimos viver em comunidade e almejar saídas coletivas, tentamos saídas individuais e depois soluções paliativas como ajudar à instituições de caridade e criar fundações de amparo à velhice, aos animais, às crianças ou a qualquer outra coisa que o valha. A sociedade atual nos faz perversos entre nós mesmo e numa atitude hipócrita e ainda chamados selvagem pejorativamente os povos primitivos do planeta. Faço minhas as palavras de Mário Juruna, primeiro índio a ser eleito deputado: É o civilizado que destrói, mata, caça sem necessidade, se isto é ser civilizado, quero continuar sendo selvagem, e não ser civilizado” Por tudo isto, devíamos debruçar sobre as culturas mais primitivas e absorver tudo, tudo o que perdemos, principalmente nossa sensibilidade para o belo e para vida vivida com prazer e de maneira coletiva. Portanto Rituais já!

RITUAIS DE PASSAGEM III COTIDIANO

A nossa sociedade industrial perdeu muito da inocência, da sensibilidade, da veneração e do simbolismo das antigas civilizações e principalmente das sociedades primitivas. Deixamos de ser antropófagos e passamos a ser simplesmente canibais, deixamos de venerar ao inimigo como um oponente valoroso e passamos a identificá –lo com o lixo, com a escória, com a imundície que não merece respeito e muito menos veneração, deixamos de trabalhar para nos sustentar e aos nossos e sim pelo medo de estar desempregado, ser um pária ou como dizem os Americanos do Norte, de ser um perdedor, e por fim deixamos de trabalhar na hora em que queríamos e folgar quando queríamos e da maneira que desejávamos para trabalhar nos períodos mais impróprios ( durante a noite, a madrugada, os dias muito frios ou muito quentes) e achar lazer as coisas mais esdrúxulas ( Jogar –se preso só na canela das alturas mais inomináveis, despencar em montanhas-russas com carrinhos em alta velocidade, Girar e virar de ponta-cabeça em brinquedos que mais parecem treinamento da NASA ou para pilotos de jatos supersônicos). Enfim perdemos a criatividade, a surpresa, a emoção e o medo verdadeiros e passamos a ter a mentira como o critério de verdade.Nas antigas civilizações tudo era verdadeiro, desde o esforço para se conseguir comida, já que o homem deveria caçar, ou catar para conseguir ao alimento e o coelho, o javali ou qualquer outra caça do gênero não deixava pegar com facilidade, e em certas regiões não se encontravam nem vegetais, para se catar, porque existem muitos desertos, muitas geleiras, muitos terrenos ermos em que poucas espécies sobrevivem, uma delas o homem por sinal. Hoje bastamos ir ao Supermercado e portanto não percebemos quão difícil é a vida, ou tentativa em mantê –la. Não existe a relação de perseverança, de ódio, de desejo do caçador em relação à caça, afinal hoje a caça vem embalada hermeticamente com filmes plásticos e ficam expostas nos balcões dos Supermercados, portanto perdemos a noção do perigo, da tentativa e erro, da sagacidade.Hoje os empregos estão cada vez mais substituindo o trabalho manual de invenção, pelo trabalho intelectual de cópia e / ou aprimoração, uma vez que tudo é “software” pronto para inserir a informação do consumidor, portanto não há a invenção somente a adaptação. As únicas partes do corpo que trabalham geralmente são dois dedos indicadores, quando muito os médios e os anulares e o cérebro ou partes específicas deste ( parte direita para fazer uma poesia, um quadro, uma peça teatral e a esquerda para se fazer uma tese, um tratado ou uma notícia de jornal). Estamos cada vez mais ficando sentados e passeamos somente durante as férias quando temos a possibilidade pela sobra de dinheiro ou de tempo ou quando levemos nosso cachorro passear ( muito mais comum em nossa sociedade) para fazerem suas necessidades. Enquanto isto o homem primitivo ou até medieval era nômade e trabalhava de sol a sol arduamente e portanto devia ter problema com doenças modernas como doenças cardíacas ou cancerígenas, inclusive era mais prática, mais calma, mais objetiva. Hoje a inimizade é tão comum quanto escovar os dentes. Se ontem éramos amigos, amanhã seremos inimigos históricos. Briga-se e mata-se por coisas das mais fúteis e corriqueiras. Mata-se por brigas de trânsito a de torcidas em campos dos mais diversos esportes (boxe, futebol, basquetebol, hóquei no gelo, etc..). Basta-se olhar atravessado para uma pessoa para arranjar uma confusão ou até mesmo morrer, não existe mais o respeito pelo inimigo. Há poucos dias minha esposa comentou a respeito das tribos “Head Hunters” que existem em algumas partes do mundo. Estas tribos caçavam aos inimigos e cortavam suas cabeças e depois as reduziam, media-se o valor do guerreiro pela quantidade de cabeças que havia reduzido, chegava a ser moeda de troca. Com a chegada dos missionários, os indígenas foram proibidos de caçar outras cabeças, então passaram a matarem –se uns aos outros,. Portanto existia todo um ritual na morte do inimigo, hoje muitas vezes nem os conhecemos, mais ou menos como a guerra – cirúrgica (se é que pode existir cirurgia ou limpeza numa guerra) na Guerra do Golfo Pérsico, demonstrando como hoje em dia existe a impessoalidade nas coisas mais cruéis. Uma bomba cai mata mais de cem pessoas e não ligamos, uma pessoa sai de seu carro depois de uma batida e descarrega sua arma e sociedade não reage, ou ainda uma grupo de torcedores dilacera um torcedor adversário e autoridades normalmente não reagem. Tudo muito limpo, impessoal, sem ritualismo.Então nossa vida deixa de ter sentido, afinal podemos comer hambúrgueres do MCDonald’s em qualquer rincão do mundo deste a Praça Vermelha até uma das ruas de Bombaim, está dos dois lados do muro da Vergonha, tanto em Israel, como na Palestina, substitui a muito tempo nosso churrasco de gato na preferência entre os lanches no Brasil. Nossa amizade é efêmera. Porque não sabemos até onde é amizade verdadeira ou apenas jogo de interesse. Algumas pessoas agem como vampiros e apenas estão ao nosso lado enquanto valemos algo, ou imaginam que valemos algo, senão somos descartados feitos embalagem usado que não foi reciclada. Por fim nossos inimigos são desconhecidos, passageiros e muitas vezes desconhecem porque são nossos inimigos. Então verificamos que com o colapso da União, muitas outras coisas entraram em colapso, as culturas universais e nacionais, bastando as comerciais; os valores morais de amizade e de companheirismo (dividir o mesmo pão ideológico); e os valores rituais, grandiloqüentes de INIMIZADE, bastando nos a inimizade efêmera, descartável e cruel de uma sociedade impessoal e individualista. Pelo retorno dos inimigos valorosos e verdadeiros! Chega de Falsidade e Dissimulação

RITUAIS DE PASSAGEM II – A IDEOLOGIA

Na sociedade plástica que consideramos moderna, a ideologia perdeu a vez e a voz (o mundo das idéias, não é importante o que importa é o invólucro, a aparência, o corpóreo e não o etéreo). Tudo se resume no que possuo, no que tenho, no que compro, no que agrego e no que mantenho como propriedade minha ou para os meus. A busca da Felicidade ficou restrita a busca da Fama e Fortuna, não da deusa Fortuna da mitologia greco-romana que simboliza a sorte, a bem-aventurança, a felicidade, mas o metal, a mercadoria, a exposição, a divulgação, o auge, o máximo.Talvez os próprios gregos sejam os culpados de estar ocorrendo está valorização do invólucro, apesar de idolatrarem a deusa Palas Atenas como guardiã da cidade-estado de Atenas, entre os deuses mais famosos estão Apolo e Afrodite que eram venerados pela sua beleza e não pela sua sapiência como Atenas, isto sem falar nas fábulas retratando a história de Psiquê, de Narciso, de Ariadne e outros humanos que cativaram aos deuses por sua beleza, como também as histórias dos semideuses tais como Hércules, Perseu, Teseu que apesar das características sobrenaturais como força, perseverança e coragem, também eram bonitos para os padrões gregos da época. Talvez aí se explique e justifique a pergunta que o apresentador Luciano Huck fez ao ator Rodrigo Santoro se ele não fosse bonito teria tantos papéis nas novelas de televisão. Eu mesmo respondo – NÃO!!!Os Romanos mantiveram as mesmas idéias dos gregos, só contribuíram na concepção do direito (do certo, do correto, do objetivo, da verdade absoluta) e também por servirem de suporte ideológico para outra vertente importante para nossa cultura ocidental, ou seja, a visão judaica-cristã, não só pelos valores como certo, verdade-absoluta, a idéia do pátrio-poder, afinal Deus é pai, mas também pela própria língua, afinal todo ritual católico e até outras religiões como as ortodoxas gregas, russas e armênias eram baseados no Latim. Basicamente o que mudada na diferença da concepção grega para a cristã, é que na grega se valorizava a inteligência e na cristã se valoriza a fé, trocando-se a dualidade Inteligência e Beleza, por Fé e Beleza. Percebemos isto na concepção do Cristo branco, nas figuras plácidas, limpas e cândidas das Madonas e nas figuras feias, tristes, sujas e amarrotadas lembrando as hostes do Mal como os Demônios, as gárgulas, os vampiros e o próprio Satã.A última influência, porém não derradeira nos idos passados foi a concepção Romântico-Burguesa em que o mais importante é o Amor, chegando ser justificável, segundo algumas concepção mais radicais, matar ( Amor de Perdição) ou morrer por Amor ( Amor de Perdição, Werther, Helena, e Iracema). Isto é se os gregos valorizavam a sociedade com a valorização da inteligência ( foi a época da assembléias dos cidadãos, da democracia, da Oratória, da Filosofia ,das ciências, das artes plásticas e da matemática; se na Idade Média se valorizava a Igreja (foi época das Cruzadas, do Santo-Ofício, das perseguições políticas tavestidas de religiosas, tais como a perseguição dos judeus e as guerras contra os mouros em território europeu); na concepção judaica-cristã se valoriza o indivíduo ( era a época das grandes iniciativas individuais como conhecer os pólos, descobrir as nascentes do grandes rios como Nilo, Amazonas, Mississipi) como também da família como célula-mater da sociedade, portanto heróis deveriam conhecer suas heroínas para terem a família certa.Portanto se hoje somos o que somos, pessoas sem ou com pouca paixão, não é culpa exclusiva nossas, mas também de nossos ascendentes, porque se os anos sessentas foram politizados com Woodstock, Guerrilhas Rurais e Urbanas, os setentas foram psicodélicos e fechados com os golpes no Chile e na Argentina com o fim dos Beatles, com o Vietnã, se nos anos oitentas foram da abertura com o fim das ditaduras na América Latina, do fim da dominação soviética nos países satélites(Polônia, Tchecoeslováquia, Alemanha Oriental) e do próprio fim da própria URSS, desde os anos noventas não temos nada que se destaque na cultura, ou talvez somente a questão da grande importância dada ao mercado mundial, chegando a desprezar as culturas de cada país e todos assumindo como sua a cultura de Mercado ( baseado principalmente nas oscilações das bolsas de Nova Iorque e Chicago) e a visão “Holywoodiana” ( dada pelos filmes da Meca e agora pelos musicais como Os Miseráveis, chegamos a importar até os gestos obscenos como do tipo “Kiss my ass” ou seja “Beije meu traseiro” feito pelos siris da Bhrama)Talvez depois disto tudo entendamos que além de ser importante conhecer outras culturas, devemos conhecer a nossa, afinal com dizia Fernando Pessoa o rio mais importante do mundo é o rio que corta minha aldeia, ao invés de tentarmos resolver tudo individualmente mas tentarmos fazer as coisas de maneira coletiva ou social, porque uma criança é ensinada pela aldeia inteira (provérbio africano) e tenhamos mais desejos possíveis como ser feliz, almejar um salário decente para ter moradia, alimentação, lazer dignos e não as Ferraris, Colares de Brilhante, Iates e outras coisitas para poucos com muito dinheiro e com muita insegurança e preocupação. Talvez se fôssemos como queria Oswald de Andrade o selvagem- tecnizado, ou seja podemos até desejar ( mesmo em época de Apagão) as novidades, a tecnologia, e o conforto, porém não podemos esquecer do nosso lado sensível, poético e artístico ligados ao nosso lado selvagem. Talvez aí caminhemos para um mundo melhor!!!Julho de 2001

RITUAIS DE PASSAGEM I - INTRODUÇÃO

Penso que o que está faltando na sociedade moderna seja apenas e tão somente rituais de passagem mais claros objetivos e menos violentos, porque durante toda a existência humana houve algo que fosse considerado a transposição de uma fase para outra. Em toda sociedade primitiva havia alguma dança, alguma luta, alguma operação física no próprio corpo que estabelecia o limite exato entre a infância-juventude e a idade adulta, hoje não, ou se há são rituais macabros ou fúteis que não são considerados rituais de passagem.Enquanto que durante as remotas eras ou nas atuais sociedades primitivas como os Yanomamis, Txucaramães, Gês, Xavantes para falar nos índios brasileiros havia rituais como colocar discos de madeiras nos lábios inferiores, ossos de animais ou pedaços de madeiras nas narinas, penas de pássaros nas narinas, orelhas ou outra parte do corpo, hoje em dia se entende o ritual de passagem na sociedade moderna como poder dirigir um carro, fazer parte de determinada turma ou o dia do primeiro roubo ou até mesmo da primeira morte.Nas sociedades primitivas tudo era ritualístico, tinha uma razão de ser, enquanto que na atual talvez embalados pela homogeneização, pela pasteurização ou pela aculturação causadas pela televisão os motivos são fúteis, impróprios ou até cruéis. Se na sociedade primitiva um elemento de uma determinada tribo matava, cortava, assava e consumia seus inimigos de outra tribo, agiam assim por duas razões básicas: a primeira por valorizar a força, as astúcia e a coragem do inimigo, já que os covardes, medrosos e doentes eram simplesmente mortos ou feitos como escravos e por acreditarem que estavam absorvendo novamente a um parente morto e consumido pelo inimigo e que a tribo rival por sua vez quando capturasse um prisioneiro desta tribo o mataria, cortaria, assaria e o consumiria também, demonstrando assim toda uma idéia complexa para justificar seu ato cruel.Claro que não defendo a volta da antropofagia, principalmente deste jeito orgânico, nem das mutilações e alterações corporais, apesar das tatuagens estarem tão em voga, porém creio que a sociedade deveria criar limites claros para todos saibam que o jovem se tornou um adulto. Quem sabe se o jovem fosse obrigado para tirar sua Carteira Nacional de Habilitação a freqüentar a grupos de acidentados, a rotina do centro cirúrgico ou ortopédico durante um caso acidente automobilístico ou motociclístico não o tornasse mais responsável no trânsito.Quem sabe se o jovem para ter uma profissão de médico, engenheiro, arquiteto, professor ou outra profissão universitária ou não ( mecânico de autos, torneiro mecânico, digitador ou outra deste tipo) fosse obrigado a prestar estágio remunerado em comunidades carentes tais como favelas, cortiços, regiões áridas ou semi-áridas de nosso país ou no exterior, este jovem seria mais solidário e ético como adulto.E por último, quem sabe se o jovem para constituir uma família, fosse obrigado a conversar com jovens em instituições de caridade, em prisões ou albergues que se encontram nesta situação por uma falta de estruturação familiar e emocional, este jovem talvez fosse um adulto mais compreensivo, mais participativo, mais sensível para com seus filhos e talvez aí tivéssemos uma sociedade melhor.Creio que no estágio que encontramos, supondo que somos uma sociedade mais evoluída, uma sociedade tecnologicamente avançada, uma sociedade que preza a liberdade de as pessoas poderem comprar um carro após fazerem um teste meia-boca e tiverem dinheiro estão aptos a saírem em seus autos “barbarizando”( como falam) no trânsito, estando aptos a matarem ou até mesmo serem mortos; ou comprarem uma arma em qualquer esquina e numa discussão de trânsito ou de rua se acharem no direito de matar seu desafeto; ou de saírem se relacionando de maneira compulsiva e medida que tem um filho, simplesmente lembra deste para se vangloriar de sua masculinidade. Neste tipo de sociedade tudo ocorre por acaso tanto os erros (que são muitos) como os acertos(que são poucos, quase imperceptíveis) e portanto a sociedade não cria referências, mitos e tabus tornando-se uma sociedade de plástico, individual e cruel. Prefiro a sociedade primitiva com seus rituais de passagem. Rituais já!Junho de 2001

segunda-feira, 21 de julho de 2008

E o Rio de Janeiro continua lindo?

Nunca havia ido ao Rio durante a minha existência. E já são quase 50 anos de vida, sem ter ido à cidade maravilhosa. Sempre tive muito interesse em conhecer esta cidade, porque sempre cativou o seu lado histórico e pitoresco, muito em função de que a história de nosso país se passou pelas portas desta cidade, afinal foi nela que a corte se instalou ao fugir de Portugal, foi lá que se deu a proclamação da República, foi lá que se instalou o Instituto Oswaldo Cruz e foi lá que se deu a revolta da vacina, foi também que houve os maiores enfrentamentos à ditadura militar nos ido de 1968 e 1969, como também foi que nasceu o Samba, a escola de samba e o carnaval de rua. Muito mais que as belezas das praias e vistas isto sempre me atraiu para o conhecer esta cidade. Então neste recesso de Julho, eu, minha esposa e meus filhos resolvemos fazer uma visita a antiga capital do país e ver suas belezas.
Partimos de casa em Susano por volta das 11h de nossa casa em Susano e depois de trafegarmos durante 6 horas, pelas rodovias dos Trabalhadores e Carvalho Pinto até Taubaté, e Dutra até o Rio de Janeiro, chegamos lá por volta das 18h, sendo que tudo lusco-fusco, e não dava para ler as placas que direcionavam aonde deveríamos seguir (como é mal sinalizada a cidade do Rio de Janeiro, quem não conhece a cidade se perde com muita facilidade), tanto que a minha esposa acabou batendo no carro da frente, porque estava preocupada em ver as placas que não via e não percebera que trânsito estava parado. Acabamos por encontrar o caminho certo para onde desejamos ir dentro da cidade do Rio de Janeiro que por uma caso ficava na rua do Clube de Regatas Vasco da Gama, ou seja, rua São Januário em São Cristóvão, depois de muito perguntar aos moradores da cidade, porque pelas placas nunca teríamos chegado.
No outro dia, depois de passarmos uma noite na casa do nosso sobrinho, morador na cidade, a primeira coisa que foi se fez foi levar o carro para arrumar, afinal o capô afundou um pouco e começou a encostar na ventoinha do motor. morremos com R$ 350,00 num cheque pré para o fim do mês e depois fomos visitar a Quinta da Boa Vista. Que lugar fabuloso! não deu tempo de conhecer todo local, porque acabamos por chegar tarde, não conhecemos o zoológico e o parque em si, ficamos restritos a propriedade aonde estão expostos vários animais, múmias, urnas funerárias, esqueletos, vestimentas, vários fósseis enfim. Minha esposa não gostou muito, porque ela gostaria que a casa tivesse os aspectos de época que se pudesse conhecer como as pessoas na época de D.Pedro I e D. Pedro II viviam dentro daquela casa, Miriam achou que deveríamos saber mais sobre os aspectos da vida cotidiana na Quinta e que aqueles fósseis não seriam pertinentes aquela propriedade, mas depois eu li num dos totens colocados na Quinta que o prédio havia sido doado por D. Pedro I para ser museu mesmo e que o mesmo foi constituído logo depois da proclamação da República e que portanto havia razão para a Quinta ser museu, não fora por um acaso.
À noite, fomos fomos conhecer a feira de São Cristóvão, com mais de 600 barracas nordestinas, num pavilhão ao ar livre que mais parece uma feira de cidade do nordeste. tem uma variedade de coisas daquela região (esta miscigenação de culturas e de pessoas, é muito típico do Brasil).
Visitamos também num domingo, o dondinho do Pão de Açúcar, para mim que tenho Acrofobia, foi uma vitória, foi muito bonito ver a cidade de cima, mas chegar até lá foi uma odisséia, e no caso nada relacionado ao meu nome em grego (Odisseu), porque enquanto aquele enfrentava todos os perigos e desejava enfretá-los, para mim foi muito difícil enfrentar, estive a ponto de desistir. Mas compensou pela vista da cidade do alto. Daquele ponto de vista, o Rio continua lindo, mas quando descemos a terra nos outros dias não gostamos do que vimos, uma cidade turística com calçadas quebradas, ruas intransitáveis, e todas aquelas favelas, quase todas sem urbanização, é meio deprimente. Esta nossa mania de valorizar o lixo como se fosse luxo, ou de não se importar, ou mesmo de fantasiar em cima do lixo, é muíssimo complicado.
Só no penúltimo dia fui conhecer a praia, mesmo assim de longe, vi mais de perto as quadras de futebol e de vôlei de areia e os jardins do aterro do Flamengo, aonde eu e minha esposa nos encontrávamos hospedados, estávamos hospedados ao lado do Catete (palácio no qual residia Getúlio Vargas quando presidente, que não pudemos visitar pela falta de horário, porque com horário de funcionamento nos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h e como esávamos de partida, nãso houve tempo para visitá-lo, quem sabe numa próxima vez?!)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Meu melhor amigo

É muito difícil estabelecermos qual seria o nosso melhor amigo, contudo para mim é muito fácil estabelecer, tendo em vista este amigo não me abandonou, mesmo que tenha se afastado por algum tempo (assim que acabou a eleição de 89 até quando o reencontrei no aniversário de um ano do seu filho - Geninho). Eugênio foi aquele amigo que nos acompanha em todos os momentos, aquele que afastam não por nossa causa, mas porque se sentem mal consigo mesmo e precisam melhorar para retomar a vida e as amizades das quais havia se afastado.
Eugênio é daqueles amigos que ficam na memória para sempre, por ser engraçado, meio-maluco, contestador, incisivo, questionador. Daqueles amigos que correm atrás de você e não de você como muito acontece, afinal se você não me serve para que você me serve, entretanto Eugênio estava muito acima disto, porque sempre me enviou seu jornal, sempre fez questão de irmos ao seu aniversário e do Geninho, sempre nos convidou para todos os momentos de sua vida, era aquele amigo sempre presente.
Tudo que lembro de Eugênio ou é engraçado, como os vários momentos em que demos risadas juntos das coisas que aconteciam conosco, é sensível, gostava de poesia, boa música, muita literatura e uma preocupação para o outro, poucas vezes vistas em outras pessoas, é inteligente, pela sua constante pesquisa de assuntos que vão do folclore á cabala, da filosofia ao surrealismo, de política á problemas com a saúde e na educação.É Eugênio sempre foi muito eclético.
Lembro-me muito bem da noite de autógrafos acontecida nos idos de 1988 na cantina Cê que sabe , no Bixiga, que foi muito concorrida com vários artistas, muita comida e muita alegria.
Lembro-me de nossas discussões sobre política e principalmente nas questões literárias, afinal ele era Surrealista e eu Concretista , várias vezes debatemos as diferenças ideológicas entre estes dois movimentos literários, apesar das discussões e das posições contrárias, nunca houve um confronto mais ríspido, porque eu não conseguia ficar aborrecido com Eugênio, afinal eu sabia que logo mais estaríamos discutindo de novo.
Tudo que consigo lembrar de Eugênio é sua alegria, sua sensibilidade, sua inteligência, principalmente sua amizade, a verdadeira amizade que nos coloca no eixo, apontando nossos erros, quando precisamos, chorando conosco, quando necessitamos, apoiando nos , quando não tínhamos mais ânimo e apoio de ninguém, portanto somente uma pessoa assim é posso chamar de meu melhor amigo, é essa pessoa era Eugênio de Lima Martins, a quem posso chamar realmente de meu melhor amigo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Primeira vez que eu vi o mar - Minhas Memórias

Até os sete anos de idade, eu não conhecia o mar e então imaginava como este seria? Falavam –me que era muito grande, imenso, mas como não tinha noção alguma, no máximo, conseguia imaginar que era do tamanho da piscina do Esporte Clube Poaense, o pó de arroz, clube ao qual eu freqüentava desde os meus cinco anos de idade, já que meu avô era treinador de natação no mesmo clube, desta cidade-dormitório distante cerca de 37 km do centro de São Paulo.
Até que no verão de 1967 para 1968, fui conhecer o mar. Éramos, por volta de quinze pessoas, numa Kombi (eu, meus três irmãos, sendo um irmão César e duas irmãs Denise e Daisy, meu pai Jarbas, que era o motorista da perua, minha mãe, Irene, meu tio Josué, vulgo velhinho, por causa do cabelo grisalho desde jovem, minha tia Elza, esposa do meu tio velhinho e meus quatro primos Josué, que conhecíamos por Júnior, Lílian, a Lilinha, Roseli e o Lineu. Que rumou para Cidade Ocean, na Praia Grande, que como diz uma outra tia minha, a Verinha.(etâ família cheia de diminutivos) era a nossa Long Beach, mas na época eu nem entendia isto.
Depois de descer todas as coisas (malas e mais malas, sacolas e mais sacolas), nós nos arrumamos e fomos para praia. Demoramos uma meia hora ou mais para chegar à praia, desconfio hoje de apesar de estarmos numa cidade com praia, fomos freqüentar a praia de outra cidade, provavelmente em São Vicente ou Santos. Descemos tudo e todos e então minha mãe começou a sentir falta de alguma coisa ou de alguém. Depois de checar todas as pessoas, notou que o meu irmão de três anos estava faltando, colocamos todos e tudo no carro novamente e rumamos de volta para o apartamento. Se para chegar à praia demoramos de trinta a quarenta minutos, para voltar acho que não chegamos a dez.
Ao checar no prédio de apartamentos vimos o meu irmão sentado na mureta, junto com o zelador, minha mãe chorava que chorava, e meu irmão dizendo “pai, eu disse, pelá pai, pelá pai, mas você não pelou”. Este foi o meu quase primeiro dia de mar, depois fomos para praia quase rotineiramente, principalmente para a Praia da Enseada no Guarujá aonde temos parentes, mas isto é outra história ou memória.