segunda-feira, 28 de julho de 2008

EM NOME DO PAI

Se foi o ano 2000 e com ele, além de outras coisas, se foi meu pai. Pessoas morrem diariamente, e importamo-nos pouco, nem tanto ou muito com isto. Porém quando nos morre uma referência, parece- nos que fugiu um pedaço de nós, uma quantidade de vida, um banco de dados, tudo, porque não fora uma porta qualquer, mas sim uma referência.Quando menor, imaginava como seria estar no ano 2000. Será o ano da catástrofe? Da destruição? ou de nossa redenção futurística? – imaginava. Pensava em carros voadores, videofones e outras coisas que acabaram surgindo e outras tantas que nunca existiram ou existirão. Podia imaginar tudo até a destruição total da vida na Terra e não a destruição individual de uma parte de minha vida.O ano em questão foi muito conturbado. No princípio do ano, foi –se minha sogra, imagine como passamos o “reveillion”, apesar de estarmos sabendo de sua morte iminente, o choque aconteceu. Porém a vida seguiu seu destino inexorável. Houve mudanças: deixei a sala de aula num de meus empregos, comemorei meu aniversário como se fosse uma festa junina( que meu pai não participou) e continuou no dia seguinte (já com a presença de meu pai) e dezesseis dias depois o falecimento de meu pai. Talvez fosse melhor não Ter existido o ano 2000 ou talvez não.O assunto ficou adormecido até o final do ano . Talvez na espera do ano fatídico terminar ou morrer ( seria um desejo de vingança?) ou quem sabe na espera da tristeza ser absorvida pela razão e os sentimentos e as emoções fossem disciplinados pela razão (seria um desejo de paz ou quietude) ou não seria por tudo isto?!Esperei o ano terminar e não pensei no fato ou fingi que não pensei. Deixei de pensar para não sofrer. Pensei isto sim no trabalho, na família e na vida de uma forma geral.Não pensei em tudo que direta ou indiretamente fosse relacionado a meu pai em minha vida. Não pensei nas suas opiniões e nas suas referências.Não pensei , por exemplo, que fora o responsável pelo meu nome (Ulisses) bem como do meu irmão (César), porque gostava de nomes heróicos, mitológicos ou histórico.Não pensei que fora responsável pela minha ávida propensão a leitura e a escrita, dando-me livros, jornais e revistas a ler na mais tenra idade ( por volta dos nove anos ).Não pensei que fora responsável primeiro pelo meu senso crítico ( o primeiro contato que tive com uma visão crítica foi através de suas mãos pela leitura d’ “O Pasquim”).Não pensei nas brincadeiras, ironias finas e nas sutilezas que humanizaram o meu espírito, porque sem suas referências eu seria um tanto previsível. Porque se sua vida era cheia de histórias, fatos ou causos, a minha não caberia num dedal.Não pensei, principalmente, que seu desejo de querer dar certo, inventando, projetando ou arquitetando coisas, fosse responsável por esta visão romântica que carrego em mim.Terminado o ano em questão, vejo-me então livre para pensar e escrever tudo de bom desta referência em minha vida. Houve falhas em meu pai? Houve. Várias. Mas não serei eu a julgá-las, porque como se dizia na antiga Roma “Dos mortos só se deve falar coisas boas”. Então Sr. Jarbas, obrigado, adeus ou até breve ! ( Quem sabe?!)

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