sexta-feira, 25 de julho de 2008

RITUAIS DE PASSAGEM I - INTRODUÇÃO

Penso que o que está faltando na sociedade moderna seja apenas e tão somente rituais de passagem mais claros objetivos e menos violentos, porque durante toda a existência humana houve algo que fosse considerado a transposição de uma fase para outra. Em toda sociedade primitiva havia alguma dança, alguma luta, alguma operação física no próprio corpo que estabelecia o limite exato entre a infância-juventude e a idade adulta, hoje não, ou se há são rituais macabros ou fúteis que não são considerados rituais de passagem.Enquanto que durante as remotas eras ou nas atuais sociedades primitivas como os Yanomamis, Txucaramães, Gês, Xavantes para falar nos índios brasileiros havia rituais como colocar discos de madeiras nos lábios inferiores, ossos de animais ou pedaços de madeiras nas narinas, penas de pássaros nas narinas, orelhas ou outra parte do corpo, hoje em dia se entende o ritual de passagem na sociedade moderna como poder dirigir um carro, fazer parte de determinada turma ou o dia do primeiro roubo ou até mesmo da primeira morte.Nas sociedades primitivas tudo era ritualístico, tinha uma razão de ser, enquanto que na atual talvez embalados pela homogeneização, pela pasteurização ou pela aculturação causadas pela televisão os motivos são fúteis, impróprios ou até cruéis. Se na sociedade primitiva um elemento de uma determinada tribo matava, cortava, assava e consumia seus inimigos de outra tribo, agiam assim por duas razões básicas: a primeira por valorizar a força, as astúcia e a coragem do inimigo, já que os covardes, medrosos e doentes eram simplesmente mortos ou feitos como escravos e por acreditarem que estavam absorvendo novamente a um parente morto e consumido pelo inimigo e que a tribo rival por sua vez quando capturasse um prisioneiro desta tribo o mataria, cortaria, assaria e o consumiria também, demonstrando assim toda uma idéia complexa para justificar seu ato cruel.Claro que não defendo a volta da antropofagia, principalmente deste jeito orgânico, nem das mutilações e alterações corporais, apesar das tatuagens estarem tão em voga, porém creio que a sociedade deveria criar limites claros para todos saibam que o jovem se tornou um adulto. Quem sabe se o jovem fosse obrigado para tirar sua Carteira Nacional de Habilitação a freqüentar a grupos de acidentados, a rotina do centro cirúrgico ou ortopédico durante um caso acidente automobilístico ou motociclístico não o tornasse mais responsável no trânsito.Quem sabe se o jovem para ter uma profissão de médico, engenheiro, arquiteto, professor ou outra profissão universitária ou não ( mecânico de autos, torneiro mecânico, digitador ou outra deste tipo) fosse obrigado a prestar estágio remunerado em comunidades carentes tais como favelas, cortiços, regiões áridas ou semi-áridas de nosso país ou no exterior, este jovem seria mais solidário e ético como adulto.E por último, quem sabe se o jovem para constituir uma família, fosse obrigado a conversar com jovens em instituições de caridade, em prisões ou albergues que se encontram nesta situação por uma falta de estruturação familiar e emocional, este jovem talvez fosse um adulto mais compreensivo, mais participativo, mais sensível para com seus filhos e talvez aí tivéssemos uma sociedade melhor.Creio que no estágio que encontramos, supondo que somos uma sociedade mais evoluída, uma sociedade tecnologicamente avançada, uma sociedade que preza a liberdade de as pessoas poderem comprar um carro após fazerem um teste meia-boca e tiverem dinheiro estão aptos a saírem em seus autos “barbarizando”( como falam) no trânsito, estando aptos a matarem ou até mesmo serem mortos; ou comprarem uma arma em qualquer esquina e numa discussão de trânsito ou de rua se acharem no direito de matar seu desafeto; ou de saírem se relacionando de maneira compulsiva e medida que tem um filho, simplesmente lembra deste para se vangloriar de sua masculinidade. Neste tipo de sociedade tudo ocorre por acaso tanto os erros (que são muitos) como os acertos(que são poucos, quase imperceptíveis) e portanto a sociedade não cria referências, mitos e tabus tornando-se uma sociedade de plástico, individual e cruel. Prefiro a sociedade primitiva com seus rituais de passagem. Rituais já!Junho de 2001

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