sexta-feira, 25 de julho de 2008

RITUAIS DE PASSAGEM II – A IDEOLOGIA

Na sociedade plástica que consideramos moderna, a ideologia perdeu a vez e a voz (o mundo das idéias, não é importante o que importa é o invólucro, a aparência, o corpóreo e não o etéreo). Tudo se resume no que possuo, no que tenho, no que compro, no que agrego e no que mantenho como propriedade minha ou para os meus. A busca da Felicidade ficou restrita a busca da Fama e Fortuna, não da deusa Fortuna da mitologia greco-romana que simboliza a sorte, a bem-aventurança, a felicidade, mas o metal, a mercadoria, a exposição, a divulgação, o auge, o máximo.Talvez os próprios gregos sejam os culpados de estar ocorrendo está valorização do invólucro, apesar de idolatrarem a deusa Palas Atenas como guardiã da cidade-estado de Atenas, entre os deuses mais famosos estão Apolo e Afrodite que eram venerados pela sua beleza e não pela sua sapiência como Atenas, isto sem falar nas fábulas retratando a história de Psiquê, de Narciso, de Ariadne e outros humanos que cativaram aos deuses por sua beleza, como também as histórias dos semideuses tais como Hércules, Perseu, Teseu que apesar das características sobrenaturais como força, perseverança e coragem, também eram bonitos para os padrões gregos da época. Talvez aí se explique e justifique a pergunta que o apresentador Luciano Huck fez ao ator Rodrigo Santoro se ele não fosse bonito teria tantos papéis nas novelas de televisão. Eu mesmo respondo – NÃO!!!Os Romanos mantiveram as mesmas idéias dos gregos, só contribuíram na concepção do direito (do certo, do correto, do objetivo, da verdade absoluta) e também por servirem de suporte ideológico para outra vertente importante para nossa cultura ocidental, ou seja, a visão judaica-cristã, não só pelos valores como certo, verdade-absoluta, a idéia do pátrio-poder, afinal Deus é pai, mas também pela própria língua, afinal todo ritual católico e até outras religiões como as ortodoxas gregas, russas e armênias eram baseados no Latim. Basicamente o que mudada na diferença da concepção grega para a cristã, é que na grega se valorizava a inteligência e na cristã se valoriza a fé, trocando-se a dualidade Inteligência e Beleza, por Fé e Beleza. Percebemos isto na concepção do Cristo branco, nas figuras plácidas, limpas e cândidas das Madonas e nas figuras feias, tristes, sujas e amarrotadas lembrando as hostes do Mal como os Demônios, as gárgulas, os vampiros e o próprio Satã.A última influência, porém não derradeira nos idos passados foi a concepção Romântico-Burguesa em que o mais importante é o Amor, chegando ser justificável, segundo algumas concepção mais radicais, matar ( Amor de Perdição) ou morrer por Amor ( Amor de Perdição, Werther, Helena, e Iracema). Isto é se os gregos valorizavam a sociedade com a valorização da inteligência ( foi a época da assembléias dos cidadãos, da democracia, da Oratória, da Filosofia ,das ciências, das artes plásticas e da matemática; se na Idade Média se valorizava a Igreja (foi época das Cruzadas, do Santo-Ofício, das perseguições políticas tavestidas de religiosas, tais como a perseguição dos judeus e as guerras contra os mouros em território europeu); na concepção judaica-cristã se valoriza o indivíduo ( era a época das grandes iniciativas individuais como conhecer os pólos, descobrir as nascentes do grandes rios como Nilo, Amazonas, Mississipi) como também da família como célula-mater da sociedade, portanto heróis deveriam conhecer suas heroínas para terem a família certa.Portanto se hoje somos o que somos, pessoas sem ou com pouca paixão, não é culpa exclusiva nossas, mas também de nossos ascendentes, porque se os anos sessentas foram politizados com Woodstock, Guerrilhas Rurais e Urbanas, os setentas foram psicodélicos e fechados com os golpes no Chile e na Argentina com o fim dos Beatles, com o Vietnã, se nos anos oitentas foram da abertura com o fim das ditaduras na América Latina, do fim da dominação soviética nos países satélites(Polônia, Tchecoeslováquia, Alemanha Oriental) e do próprio fim da própria URSS, desde os anos noventas não temos nada que se destaque na cultura, ou talvez somente a questão da grande importância dada ao mercado mundial, chegando a desprezar as culturas de cada país e todos assumindo como sua a cultura de Mercado ( baseado principalmente nas oscilações das bolsas de Nova Iorque e Chicago) e a visão “Holywoodiana” ( dada pelos filmes da Meca e agora pelos musicais como Os Miseráveis, chegamos a importar até os gestos obscenos como do tipo “Kiss my ass” ou seja “Beije meu traseiro” feito pelos siris da Bhrama)Talvez depois disto tudo entendamos que além de ser importante conhecer outras culturas, devemos conhecer a nossa, afinal com dizia Fernando Pessoa o rio mais importante do mundo é o rio que corta minha aldeia, ao invés de tentarmos resolver tudo individualmente mas tentarmos fazer as coisas de maneira coletiva ou social, porque uma criança é ensinada pela aldeia inteira (provérbio africano) e tenhamos mais desejos possíveis como ser feliz, almejar um salário decente para ter moradia, alimentação, lazer dignos e não as Ferraris, Colares de Brilhante, Iates e outras coisitas para poucos com muito dinheiro e com muita insegurança e preocupação. Talvez se fôssemos como queria Oswald de Andrade o selvagem- tecnizado, ou seja podemos até desejar ( mesmo em época de Apagão) as novidades, a tecnologia, e o conforto, porém não podemos esquecer do nosso lado sensível, poético e artístico ligados ao nosso lado selvagem. Talvez aí caminhemos para um mundo melhor!!!Julho de 2001

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