sexta-feira, 25 de julho de 2008

RITUAIS DE PASSAGEM III COTIDIANO

A nossa sociedade industrial perdeu muito da inocência, da sensibilidade, da veneração e do simbolismo das antigas civilizações e principalmente das sociedades primitivas. Deixamos de ser antropófagos e passamos a ser simplesmente canibais, deixamos de venerar ao inimigo como um oponente valoroso e passamos a identificá –lo com o lixo, com a escória, com a imundície que não merece respeito e muito menos veneração, deixamos de trabalhar para nos sustentar e aos nossos e sim pelo medo de estar desempregado, ser um pária ou como dizem os Americanos do Norte, de ser um perdedor, e por fim deixamos de trabalhar na hora em que queríamos e folgar quando queríamos e da maneira que desejávamos para trabalhar nos períodos mais impróprios ( durante a noite, a madrugada, os dias muito frios ou muito quentes) e achar lazer as coisas mais esdrúxulas ( Jogar –se preso só na canela das alturas mais inomináveis, despencar em montanhas-russas com carrinhos em alta velocidade, Girar e virar de ponta-cabeça em brinquedos que mais parecem treinamento da NASA ou para pilotos de jatos supersônicos). Enfim perdemos a criatividade, a surpresa, a emoção e o medo verdadeiros e passamos a ter a mentira como o critério de verdade.Nas antigas civilizações tudo era verdadeiro, desde o esforço para se conseguir comida, já que o homem deveria caçar, ou catar para conseguir ao alimento e o coelho, o javali ou qualquer outra caça do gênero não deixava pegar com facilidade, e em certas regiões não se encontravam nem vegetais, para se catar, porque existem muitos desertos, muitas geleiras, muitos terrenos ermos em que poucas espécies sobrevivem, uma delas o homem por sinal. Hoje bastamos ir ao Supermercado e portanto não percebemos quão difícil é a vida, ou tentativa em mantê –la. Não existe a relação de perseverança, de ódio, de desejo do caçador em relação à caça, afinal hoje a caça vem embalada hermeticamente com filmes plásticos e ficam expostas nos balcões dos Supermercados, portanto perdemos a noção do perigo, da tentativa e erro, da sagacidade.Hoje os empregos estão cada vez mais substituindo o trabalho manual de invenção, pelo trabalho intelectual de cópia e / ou aprimoração, uma vez que tudo é “software” pronto para inserir a informação do consumidor, portanto não há a invenção somente a adaptação. As únicas partes do corpo que trabalham geralmente são dois dedos indicadores, quando muito os médios e os anulares e o cérebro ou partes específicas deste ( parte direita para fazer uma poesia, um quadro, uma peça teatral e a esquerda para se fazer uma tese, um tratado ou uma notícia de jornal). Estamos cada vez mais ficando sentados e passeamos somente durante as férias quando temos a possibilidade pela sobra de dinheiro ou de tempo ou quando levemos nosso cachorro passear ( muito mais comum em nossa sociedade) para fazerem suas necessidades. Enquanto isto o homem primitivo ou até medieval era nômade e trabalhava de sol a sol arduamente e portanto devia ter problema com doenças modernas como doenças cardíacas ou cancerígenas, inclusive era mais prática, mais calma, mais objetiva. Hoje a inimizade é tão comum quanto escovar os dentes. Se ontem éramos amigos, amanhã seremos inimigos históricos. Briga-se e mata-se por coisas das mais fúteis e corriqueiras. Mata-se por brigas de trânsito a de torcidas em campos dos mais diversos esportes (boxe, futebol, basquetebol, hóquei no gelo, etc..). Basta-se olhar atravessado para uma pessoa para arranjar uma confusão ou até mesmo morrer, não existe mais o respeito pelo inimigo. Há poucos dias minha esposa comentou a respeito das tribos “Head Hunters” que existem em algumas partes do mundo. Estas tribos caçavam aos inimigos e cortavam suas cabeças e depois as reduziam, media-se o valor do guerreiro pela quantidade de cabeças que havia reduzido, chegava a ser moeda de troca. Com a chegada dos missionários, os indígenas foram proibidos de caçar outras cabeças, então passaram a matarem –se uns aos outros,. Portanto existia todo um ritual na morte do inimigo, hoje muitas vezes nem os conhecemos, mais ou menos como a guerra – cirúrgica (se é que pode existir cirurgia ou limpeza numa guerra) na Guerra do Golfo Pérsico, demonstrando como hoje em dia existe a impessoalidade nas coisas mais cruéis. Uma bomba cai mata mais de cem pessoas e não ligamos, uma pessoa sai de seu carro depois de uma batida e descarrega sua arma e sociedade não reage, ou ainda uma grupo de torcedores dilacera um torcedor adversário e autoridades normalmente não reagem. Tudo muito limpo, impessoal, sem ritualismo.Então nossa vida deixa de ter sentido, afinal podemos comer hambúrgueres do MCDonald’s em qualquer rincão do mundo deste a Praça Vermelha até uma das ruas de Bombaim, está dos dois lados do muro da Vergonha, tanto em Israel, como na Palestina, substitui a muito tempo nosso churrasco de gato na preferência entre os lanches no Brasil. Nossa amizade é efêmera. Porque não sabemos até onde é amizade verdadeira ou apenas jogo de interesse. Algumas pessoas agem como vampiros e apenas estão ao nosso lado enquanto valemos algo, ou imaginam que valemos algo, senão somos descartados feitos embalagem usado que não foi reciclada. Por fim nossos inimigos são desconhecidos, passageiros e muitas vezes desconhecem porque são nossos inimigos. Então verificamos que com o colapso da União, muitas outras coisas entraram em colapso, as culturas universais e nacionais, bastando as comerciais; os valores morais de amizade e de companheirismo (dividir o mesmo pão ideológico); e os valores rituais, grandiloqüentes de INIMIZADE, bastando nos a inimizade efêmera, descartável e cruel de uma sociedade impessoal e individualista. Pelo retorno dos inimigos valorosos e verdadeiros! Chega de Falsidade e Dissimulação

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